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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Fábulas de Leonard D`Vinci

A Água

Um dia, a água, encontrando-se no seu elemento, isto é, no mar, teve vontade de subir ao céu.
Dirigiu-se, então, a outro elemento, o fogo, suplicando-lhe que a ajudasse. O fogo aceitou e com o seu calor tornou-a mais leve que o ar, transformando-a num subtil vapor. O vapor elevou-se em direcção ao céu, voou muito alto, até aos estratos mais leves e frios do ar onde o fogo já não podia segui-lo. Então, as partículas do vapor, hirtas de frio, viram-se obrigadas a juntar-se umas às outras, muito apertadas e, por isso, tornaram-se mais pesadas que o ar. Caíram, então, em forma de chuva. Mais do que cair, precipitaram-se. Tinham subido ao céu cheias de soberba mas rapidamente foram obrigadas a fugir. A chuva foi bebida pela terra sedenta e, assim, por ter ficado muito tempo prisioneira do solo, a água pagou o seu pecado com uma demorada penitência.


A Aranha e o Besouro

      Uma aranha, escondida num lugar frequentado pelas moscas, começou a estender a sua rede. Escolheu dois ramos como ponto de apoio e pôs-se logo a andar de um lado para o outro tecendo os seus fios de prata para fazer uma apertada teia de aranha. Acabando o trabalho foi esconder-se atrás de uma folha.
      Esperou pouco tempo. Uma mosca curiosa foi logo apanhada pela rede. A aranha aproximou-se e comeu-a. Mas, um besouro que, pousando na corola de uma flor, assistira à cena, voou a toda a velocidade e caiu em cima da aranha atravessando-a com o seu agulhão.

 
O Loureiro, o Mirto e a Pereira

      Dois camponeses, de machado na mão, pararam junto a uma pereira.
      - Pereira! – Gritou o loureiro – Vêm derrubar-te!
      Os camponeses, de facto, empunhando o machado, começaram a golpear a base da árvore, para a abater.
      - Pereira! – Gritou, então, o mirto – Onde está a tua soberba quando tinhas os ramos carregados de frutos?
      - Agora – acrescentou o loureiro – não nos voltarás a fazer sombra com a tua folhagem.
      A pereira ferida de morte murmurou:
      - Estes camponeses que me estão a cortar vão levar-me para o estúdio de um grande escultor. Com a sua arte ele dar-me-á a forma do deus Júpiter e hão-de pôr-me num templo especialmente feito para mim e todos os homens me adorarão. Mas tu, loureiro, e tu, mirto, estais destinados a acabar com os vossos ramos nus e para me coroarem e me renderem as homenagens a que um deus tem direito.
O Burro e o Gelo

         Era uma vez um burro cansado que não se sentia com vontade de caminhar até ao estábulo.
Estava-se no inverno, fazia muito frio e todos os caminhos se tinham coberto de gelo.
- Eu fico aqui - disse o burro deitando-se no chão.
Um pardalinho esfomeado pousou ao pé dele e disse-lhe ao ouvido:
- Burro, tu não estás deitado no caminho. Estás estendido em cima de um lago gelado. Tem cuidado.
O burro, morto de sono, abriu a boca num largo bocejo e adormeceu.
Mas o calor do seu corpo começou, pouco a pouco, a derreter o gelo até que com um grande estalido o gelo se partiu.
Quando deu conta estava debaixo de água o burro acordou, alarmado:mas já era demasiado tarde e morreu afogado.
Fonte: VINCI, Leonard D`, Fábulas, Lisboa, Prefácio.

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