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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O Menino e o Crocodilo

Um crocodilo, andando a passear, encontrou-se com um menino e disse-lhe:
- Ensina-me o caminho do rio porque eu perdi-me.
O menino respondeu:
-Para te levar à beira do rio, não tenho confiança em ti.
Respondeu-lhe o crocodilo:
-Não duvides de mim porque não estou a enganar-te, mas, se não acreditas, amarra-me as mãos e as patas.
o menino assim fez e depois carregou o crocodilo à cabeça.
Quando estavam perto do rio, o menino disse ao crocodilo:
- Como já chegámos vou por-te no chão. A seguir, desatou as cordas com que o amarrara.
Logo que o menino voltou as costas, o crocodilo apanhou-o.
- O que me queres fazer? - interrogou o menino.
-Quero comer-te - respondeu o crocodilo e, carregando com o rapazinho, marchou para o rio.
O Crocodilo entrou na água com a criança. Ao mesmo tempo, apareceu na margem do rio, uma lebre.
O menino disse ao crocodilo:
- Espera. Eu vou chamar a lebre para ela ser testemunha do que me fizeste.
O menino relatou à lebre o que se passara.
A lebre, surpreendida com o que lhe disse o pequeno, respondeu:
-Tu tens muita coragem.Como é que te atreveste a ajudar o crocodilo?
O pequeno ripostou:
- Andei com precaução, porque, quando o transportei até ao rio, lhe amarrei as patas e as mãos.
Volta a lebre a falar:
-Não! Isso que me dizes, eu não acredito. Explica-me bem como é que fizeste.
O crocodilo tornou a pôr as mãos e as patas para trás e o menino amarrou-o.
- Como é que o carregaste? - perguntou a lebre.
O menino arranjou uma rodilha e pôs o crocodilo à cabeça. Fez tudo isto sentado e só depois de ter a carga à cabeça é que se levantou.
nessa altura, a lebre voltou a indagar:
-Então o teu pai nunca comeu crocodilo? E a tua mãe?
-Gostam - respondeu o pequeno -, e costumam comer.
-Então carrega com ele e leva-o para casa - insistiu a lebre, e terminou:
- quem procedeu como o crocodilo é a paga que merece.

Moral: É bem verdade que a astúcia domina a força.


Fonte: Histórias de Longe e de Perto - Histórias, Contos e Lendas de Povos que falam também português, concepção e selecção de Maria de Lourdes Tavares e Maria Odete Tavares Tojal, Ministério da Educação (texto com supressões)

ESTUDAR

Ler um livro é muito importante,
às vezes urgente.
Mas os livros não são o bastante
 para a gente ser gente.

É preciso aprender a escrever,
Mas também a viver!
Mas também a sonhar!
É preciso aprender a crescer,
aprender a estudar.

Aprender a crescer quer dizer
aprender a ESTUDAR, a  conhecer  os
                                      outros
A ajudar, a viver com os outros
E quem aprender a viver com os outros
Aprende sempre a viver bem consigo
                                      mesmo.
Não merecer um castigo
É ESTUDAR
Estar contente consigo
É ESTUDAR
Aprender a terra
Aprender o trigo
E ter um amigo
Também é estudar.
Estudar também é repartir
também é saber dar
o que a gente souber dividir
Para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado
sem ninguém nos ditar.
E se um erro nos for apontado,
é sabê-lo emendar.
É preciso em vez de um tinteiro
ter uma cabeça que saiba pensar,
pois na escola da vida, primeiro está saber estudar.

Contar todas as papoilas de um trigal,
é a mais linda conta de somar
que se pode fazer.

Dizer apenas música quando se ouve um
pássaro
Pode ser a mais bela redacção do mundo.


Fonte: Ary dos Santos, José Carlos, Obra Poética, Edições Avante.
Poema publicado em livro escolar do 6º ano, do ensino básico, “Voando …nas Asas da fantasia”, Mocho, Ana Maria e Boaventura, Odete, Edições Asa.

José Carlos Ary dos Santos, nasceu em Lisboa em 1937 e faleceu em 1987, destacou-se como letrista de canções (mais de 600 poemas para musicar) que marcaram a música ligeira portuguesa.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Fábulas de Esopo em Espanhol



La zorra y la serpiente

Se encontraba una higuera a la orilla de un camino, y una zorra vio junto a ella una serpiente dormida.
Envidiando aquel cuerpo tan largo, y pensando en que podría igualarlo, se echó la zorra a tierra al lado de la serpiente e intentó estirarse cuanto pudo. Tanto esfuerzo hizo, hasta que al fin, por vanidosa, se reventó.

-No imites a los más grandes, si aún no tienes las condiciones para hacerlo.



El león enamorado de la hija del labrador
Se había enamorado un león de la hija de un labrador y la pidió en matrimonio.
Y no podía el labrador decidirse a dar su hija a tan feroz animal, ni negársela por el temor que le inspiraba. Entonces ideó lo siguiente: como el león no dejaba de insistirle, le dijo que le parecía digno para ser esposo de su hija, pero que al menos debería cumplir con la siguiente condición:
que se arrancara los dientes y se cortara sus uñas, porque eso era lo que atemorizaba a su hija.
El león aceptó los sacrificios porque en verdad la amaba.
Una vez que el león cumplió lo solicitado, cuando volvió a presentarse ya sin sus poderes, el labrador lleno de desprecio por él, lo despidió sin piedad a golpes.
  
Nunca te fíes demasiado como para despojarte de tus propias defensas, pues fácilmente serás vencido por los que antes te respetaban.
 Fonte:http://www.edyd.com/(22/01/2011-12.57h)

ADIVINANZAS




En verdes ramas nací,
en molino me estrujaron,
en un pozo me metí,
y del pozo me sacaron 
a la cocina a freír.
(El aceite)



Tengo cabeza redonda,
sin nariz, ojos ni frente,
y mi cuerpo se compone
tan sólo de blancos dientes.
(El ajo)



Blanco soy como la nieve,
me sacan de una caña,
y aunque soy del otro mundo,
ahora ya nazco en España.
(El azúcar)



Entre col y col lechuga,
entre lechuga, una flor,
que al sol siempre está mirando,
dorándose a su calor.
(El girasol)


¿Quién será la que pasa 
entre mis ojos,
si no soy más que un puente
y no la cojo?
(El agua)

Fonte:http://pacomova.eresmas.net/(22/01/2011-12.23)

Trabalenguas



Poquito a poquito Paquito
 empaca poquitas copitas en pocos paquetes.


Si la sierva que te sirve, no te sirve como sierva,
de que sirve que te sirvas de una sierva que no sirve.


Tengo un tío cajonero
que hace cajas y calajas
y cajitas y cajones.
Y al tirar de los cordones
salen cajas y calajas
y cajitas y cajones.

Los hombres con hambre hombre, abren sus hombros hombrunos sin dejar de ser hombres con hambre hombre hombruno. Si tú eres un hombre con hambre hombre hombruno, pues dí que eres un hombre com hambre y no cualquier hombre hombruno sino un hombre con hombros muy hombre, hombre. 
Fonte:http://pacomova.eresmas.net/(22/01/2011-12.39)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Rimas de horário e calendário

 Calendário
Amanhã é domingo,
Toca o sino.
O sino é de ouro,
Pica-se o touro.
O touro é bravo,
Pica-se no rabo.

Fonte:http://alfarrabio.di.uminho.pt/

Os meses do ano

Janeiro geoso
Fevereiro nevoso
Março molinhoso
Abril chuvoso
Maio ventoso
- fazem o ano
muito famoso.


Semana da Preguiçosa

Na segunda me deito
Na terça me levanto
Na quarta é dia santo
Na quinta vou à feira
Na sexta venho da feira
Sábado vou –me confessar
No domingo comungar
Diga-me lá, ó comadre,
Quando hei-de trabalhar?

Fonte: VIEIRA, Alice, Eu bem vi nascer o sol, Caminho.

Poemas

Livro
Um amigo
Para falar comigo
Um navio
Para viajar
Um Jardim
Para brincar
Uma escola
Para levar
Debaixo do braço
Para além do tempo
E do espaço.

Autora: Luisa Ducla Soares (escritora portuguesa)


Fábulas de Leonard D`Vinci

A Água

Um dia, a água, encontrando-se no seu elemento, isto é, no mar, teve vontade de subir ao céu.
Dirigiu-se, então, a outro elemento, o fogo, suplicando-lhe que a ajudasse. O fogo aceitou e com o seu calor tornou-a mais leve que o ar, transformando-a num subtil vapor. O vapor elevou-se em direcção ao céu, voou muito alto, até aos estratos mais leves e frios do ar onde o fogo já não podia segui-lo. Então, as partículas do vapor, hirtas de frio, viram-se obrigadas a juntar-se umas às outras, muito apertadas e, por isso, tornaram-se mais pesadas que o ar. Caíram, então, em forma de chuva. Mais do que cair, precipitaram-se. Tinham subido ao céu cheias de soberba mas rapidamente foram obrigadas a fugir. A chuva foi bebida pela terra sedenta e, assim, por ter ficado muito tempo prisioneira do solo, a água pagou o seu pecado com uma demorada penitência.


A Aranha e o Besouro

      Uma aranha, escondida num lugar frequentado pelas moscas, começou a estender a sua rede. Escolheu dois ramos como ponto de apoio e pôs-se logo a andar de um lado para o outro tecendo os seus fios de prata para fazer uma apertada teia de aranha. Acabando o trabalho foi esconder-se atrás de uma folha.
      Esperou pouco tempo. Uma mosca curiosa foi logo apanhada pela rede. A aranha aproximou-se e comeu-a. Mas, um besouro que, pousando na corola de uma flor, assistira à cena, voou a toda a velocidade e caiu em cima da aranha atravessando-a com o seu agulhão.

 
O Loureiro, o Mirto e a Pereira

      Dois camponeses, de machado na mão, pararam junto a uma pereira.
      - Pereira! – Gritou o loureiro – Vêm derrubar-te!
      Os camponeses, de facto, empunhando o machado, começaram a golpear a base da árvore, para a abater.
      - Pereira! – Gritou, então, o mirto – Onde está a tua soberba quando tinhas os ramos carregados de frutos?
      - Agora – acrescentou o loureiro – não nos voltarás a fazer sombra com a tua folhagem.
      A pereira ferida de morte murmurou:
      - Estes camponeses que me estão a cortar vão levar-me para o estúdio de um grande escultor. Com a sua arte ele dar-me-á a forma do deus Júpiter e hão-de pôr-me num templo especialmente feito para mim e todos os homens me adorarão. Mas tu, loureiro, e tu, mirto, estais destinados a acabar com os vossos ramos nus e para me coroarem e me renderem as homenagens a que um deus tem direito.
O Burro e o Gelo

         Era uma vez um burro cansado que não se sentia com vontade de caminhar até ao estábulo.
Estava-se no inverno, fazia muito frio e todos os caminhos se tinham coberto de gelo.
- Eu fico aqui - disse o burro deitando-se no chão.
Um pardalinho esfomeado pousou ao pé dele e disse-lhe ao ouvido:
- Burro, tu não estás deitado no caminho. Estás estendido em cima de um lago gelado. Tem cuidado.
O burro, morto de sono, abriu a boca num largo bocejo e adormeceu.
Mas o calor do seu corpo começou, pouco a pouco, a derreter o gelo até que com um grande estalido o gelo se partiu.
Quando deu conta estava debaixo de água o burro acordou, alarmado:mas já era demasiado tarde e morreu afogado.
Fonte: VINCI, Leonard D`, Fábulas, Lisboa, Prefácio.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Parábolas

A Ovelha Perdida

Os fariseus e escribas que vinham ouvir Jesus ficaram horrorizados com o tipo de pessoas que se encontravam entre a multidão, ao pé deles. Eram pessoas que eles achavam que não obedeciam às leis que eles tanto se esforçavam por cumprir. Para os fariseus, estas pessoas não mereciam misturar-se com eles, e diziam que Jesus deveria também ter cuidado e evitar conviver com elas.
- Disseram-me que Ele até come com eles – exclamou um fariseu, muito escandalizado.
- Se ele se misturar com tal gente, é porque não é enviado por Deus – comentou um outro.
- Deus não tem nada a ver com pecadores como estes – concordou o outro.
Jesus ouviu esta conversa. Voltou-se e fitou-os, pois eles estavam um pouco à parte.
- Imaginai – disse-lhes – que um de vós possui um rebanho com 100 ovelhas. À noite, de regresso a casa, conta-as e descobre que falta uma delas. O que fará? Ir-se-á deitar ao lado das outras 99, sem se importar com aquela que ficou perdida? É claro que não! Não descansará enquanto não encontrar essa ovelha, e percorrerá todo o local por onde andou nesse dia, toda a escarpa, todo o arbusto, até finalmente ouvir o balido da ovelha perdida. Todo o cansaço da busca será esquecido com a alegria daquele encontro. Pegará na ovelha, colocá-la-á às costas e regressará a casa, feliz. Aí chamará os seus amigos e os outros pastores para com ele se alegrarem por ter encontrado a sua ovelha.
            É assim que Deus faz com os homens. Há mais alegria no céu por um pecador que andava perdido e se volta para Deus do que por 99 pessoas que se julgam boas e nunca se modificam.



A Moeda Desaparecida

Antes mesmo que os fariseus, furiosos, tivessem tempo de reagir, Jesus começou a contar uma outra história:
- Uma dona de casa tem só dez moedas. È esse todo o dinheiro que possui. Um dia, descobre que perdeu uma delas. Em vez de encolher os ombros e fazer com que as outras nove lhe cheguem, decide procurar por toda a casa. Depois de com uma lâmpada ter rebuscado todos os cantos, resolve-se a varrer, na esperança de ver a moeda a brilhar no chão.
E assim acontece. De repente, vê um objecto brilhante à frente da vassoura. Finalmente encontrara a moeda desaparecida! Fica tão contente que convida os amigos e vizinhos para partilharem com ela aquela alegria.
Deus também fica assim contente, por cada pecador que volta para Ele, e vive toda esta alegria com os seus anjos.

Fonte: BATCHELOR, Mary, 365 Histórias da Bíblia, Edições verbo.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Contos Angolanos



A Sexa e o Bâmbi*

Amigo Sexa**, em testemunho de amizade, convidou o compadre Bâmbi** a um passeio a sua terra. Dias depois, amigo Bâmbi, para experimentar a cordialidade de amigo Sexa, confidencia-lhe:
- Sabes? Gosto muito da tua irmã!
- Se gostas dela, espera, que eu te preparo as conversas.
Amigo Sexa transmitiu a revelação à família. A rapariga anuiu. E amigo Bâmbi passou a namorá-la.
Mais uns dias volvidos, amigo Sexa anunciou ao amigo a abalada, tinha de retomar o serviço. Amigo Bâmbi, para provar novamente a estima a casa, finge-se doente. O amigo adia a partida.
Amigo Bâmbi continua sem se levantar. Consultam-se quimbandas. Mas todos declaram que aquilo não era doença, antes um fingimento.
- É compadre, tu afinal não tens nada! Vamo-nos embora! – Roga-lhe amigo Sexa.
Amigo Bâmbi suspira:
- Estou envergonhado compadre!
Daí a dias, fazia-se morto. Amigo Sexa prepara-se para arranjar uma tipóia – esteira atada a um pau – para o enterrar. Antes de sair ainda lhe diz ao ouvido:
- É compadre, vamos enterrar-te! Por que não te levantas?
- Auâ! Enterrem-me já! Estou envergonhado!
- Mas estás envergonhado de quê? Não roubaste, não puseste crime, não deves a ninguém…
- Deixa-me só, compadre! Estou envergonhado!
O corpo é deposto na tipóia. Já na altura do enterramento, o amigo Sexa introduz-se na cova para incomodar o amigo.
- Compadre, vamos mesmo enterrar-te! Não está a ouvir que já te pusemos na cova? – Murmura-lhe pela derradeira vez.
- Já disse: enterrem-me! Estou envergonhado!
- Mas vergonha de quê? Não roubaste, não puseste crime, não deves a ninguém… Vamos só, aqui não há parvoíce! Levanta-te, morres mesmo!
- Exi! Fico mesmo! Estou envergonhado!
Perante tal obstinação, amigo Sexa sacode o companheiro. Mas nada! Para o demover, pede aos assistentes que o enterrem também.
A família opõe-se. Eh! eh! eh! Estava ele porventura doido ou bêbado para querer enterrar-se vivo? Saísse do buraco, deixasse o outro, que já tinha morrido!
E amigo Bâmbi, pela sua vergonha, acabou por ser enterrado.
(Conto narrado por Virgínia Francisco dos Santos, uma septuagenária do Dondo)
** Sexa: cabra selvagem de pequeno porte que abunda sobretudo nas matas do Norte do país; corsa.
** Bâmbi: cabra selvagem que prolifera por todo o país: cabrito do mato.
*Óscar Ribas**(contista, ficcionista e etnólogo angolano (Ago/1909-Jun/2004); conto retirado no livro “Misoso”, 1º volume)

Fonte:http://malambas.blogspot.com/(16/01/2011-7.30h)
O Coelho e o Macaco
Amigo Macaco procurou o amigo Coelho e disse-lhe:
– Vavó Leoa teve filhos! Como ela só está bem a matar vamo-nos oferecer para lhe criar os filhos. Depois matamo-los à fome, e a ela também.
Amigo Coelho achou bem. Mas quando se apresentaram a avó Leoa quis matá-los.
Aiii, vavó, não nos coma só, somos crianças, a nossa carne não chega para te acabar a fome!
Se queres, vamos-te buscar os maiores, como vavô Pacaça, tio Javali e outros… Suplicaram ambos.
Avó Leoa aquiesceu.
– E vavó, para eles virem, tens de te fingir morta, envolvida em capim. Alvitrou amigo Macaco.
Os dois, colocando-se à porta de casa, começaram a tocar uma goma, cantando:
Morreu vavó Leoa,
Livres ficámos!
Morreu vavó Leoa,
Livres ficámos!
A bicharada, ouvindo tal cantiga, tão satisfeita ficou, que até se pôs a dançar dentro do quarto. Hela! Vavó Leoa morta! Até parecia mentira! E todos, em redor do monte de capim, dançavam, dançavam, dançavam.
Amigo Coelho e amigo Macaco, já a batucada ia rija, saem e fecham a porta. Avó Leoa salta do capim, e nhão-nhão-nhão – mata aqui, mata ali, mata a todos eles. Não satisfeita com o morticínio, vai ter com o amigo Coelho e amigo Macaco, igualmente para os matar.
– Ai, vavó, não nos mates só, a gente vai-te buscar lenha para assares esta carne toda! Aiii, não queres? – Propõe amigo Macaco.
Avó Leoa concordou. E os dois foram ao mato. Mas avô Quitassele quis comê-los.
– Ai vavô não nos mates só, espera que te trazemos um grandalhão como tu. Somos crianças, não temos carne para ti. – Rogou o amigo Macaco.
A serpente anuiu.
– Vavó, estávamos para ser comidos por vavô Quitassele. O melhor é ires connosco.
– Informou amigo Macaco.
Avó Leoa foi. Ao chegarem, amigo Macaco avisa avô Quitassele:
– O grandalhão como tu já cá está.
Avô Quitassele sai do esconderijo e mata avó Leoa.
– Vavô em casa tem muita carne. Vamos prepará-la. – Convida amigo Macaco.
Os três vão para casa. Mas amigo Coelho e amigo Macaco carretam lenha.
– Vavô agora é preciso fogo. Vamos nas lavras. – Alvitra amigo Macaco.
As pessoas, vendo a cobra, deitaram a fugir:
– Cobra! Cobra!
Aproveitando a fuga, amigo Macaco aconselha:
– Vavô, acenda já.
A serpente que trazia capim na cauda e cabeça, virou primeiro uma parte, depois a outra. E avô Quitassele morreu queimado.
*Óscar Ribas*
*(escritor e etnólogo angolano (1909-2004); conto retirado do Afroletras, nº. 3, Fev. 2000)
Fonte:http://malambas.blogspot.com/ (16/01/2011- 8.54h)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Contos de Fadas


Os Três Cabelos de Ouro do Diabo

        Era uma vez uma pobre mulher que deu à luz um rapazinho. E como este riu na barriga da mãe, previam que aos catorze anos casaria com a filha do rei. Ora aconteceu que pouco tempo depois o rei foi até à aldeia. Mas ninguém sabia quem ele era e, quando perguntou às pessoas que novidades havia, responderam-lhe: «Num destes dias nasceu uma criança que chorou na barriga da mãe. Tudo quanto uma criança destas tenta, alcança… e previram que aos catorze anos casará com a filha do rei.»
        O rei tinha um mau coração e a profecia encheu-o de raiva. Foi procurar os pais da criança e, com um ar amável, disse:
        - Pobre gente, confiem-me o vosso filho que eu me encarregarei dele.
        Começaram por recusar, mas como o estranho lhes oferecia uma grande quantia, disseram para si:
        - É filho da sorte, isto só pode ser bom para ele.
        E acabaram por aceitar, dando-lhe a criança.
        O rei pô-lo numa caixa e cavalgou até à borda dum rio profundo. Então, lançou a caixa à água, dizendo:
         Libertei a minha filha deste pretendente inesperado.
        Mas a caixa não foi ao fundo, vogou como um barquinho e nem uma gota de água lhe entrou dentro. E assim foi navegando até duas léguas da capital do reino, onde havia um moinho em cuja represa ficou retida.
        Um jovem moleiro, que felizmente lá se encontrava, viu-a e puxou-a com a ajuda de um arpão, pensando que ia encontrar grandes tesouros; mas, quando a abriu, só viu um belo pimpolho, fresco e bem-disposto. Levou-o aos donos do moinho e, como estes não tinham filhos, alegraram-se e disseram:
        - Foi Deus que o enviou.
        E tomaram muito bem conta da criança, que cresceu cheia de todas as virtudes.
        Ora aconteceu que, num dia de tempestade, o rei entrou no moinho e perguntou aos moleiros se aquele rapagão era filho deles.
        - Não – responderam-lhe – Foi uma criança encontrada há catorze anos; veio numa caixa até à nossa represa e o nosso aprendiz tirou-a da água.
        O rei percebeu logo que só podia ser a criança que tinha rido na barriga da mãe e que tinha lançado ao rio.
        - Boa gente – disse. – Este jovem não poderá levar uma carta à rainha? Dar-lhe-ei duas peças de ouro pelo seu trabalho.
        - Às vossas ordens, senhor – responderam-lhe.
        E disseram ao rapaz para se aprontar. Então, o rei escreveu um bilhete à rainha em que lhe dizia:
        - Assim que o portador desta carta chegar, deve ser morto e enterrado, e tudo isto antes do meu regresso.
        O rapaz pôs-se a caminho com a carta, mas perdeu-se e chegou à noite a uma grande floresta. Na escuridão, viu uma luzinha, dirigiu-se para ela e chegou a uma pequena choupana. Quando entrou, estava uma velha sentada, sozinha, ao pé do lume. Quando o viu, assustou-se e perguntou-lhe:
        - Donde vens e para onde vais?
        - Venho do moinho – respondeu-lhe – e vou levar uma carta à rainha. Mas, como me perdi no bosque, queria muito passar a noite aqui.
        - Pobre criança! Caíste num covil de ladroes, que te matam quando voltarem.
        - Venha quem quiser – disse o rapaz – que não tenho medo; mas agora estou tão cansado que não posso ir mais longe.
        Estendeu-se sobre um banco e adormeceu. Pouco depois, chegaram os salteadores e perguntaram, zangados, quem era aquele estranho.
        - Ah! – disse a velha. – É uma criança inocente que se perdeu na floresta e recolhi por piedade. Tem de levar uma carta à rainha.
        Os ladrões descobriram a carta, levaram-na e viram que o rapaz seria morto assim que chegasse. Então, aqueles salteadores de coração endurecido encheram-se de pena e o chefe rasgou a carta e escreveu uma outra em que dizia que, assim que chegasse, o jovem deveria casar com a filha do rei. Depois, deixaram-no dormir tranquilo no banco até à manhã seguinte e, quando acordou, deram-lhe a carta e ensinaram-lhe o caminho certo. Quando a rainha recebeu e leu o bilhete, fez o que lhe mandavam: ordenou que preparassem uma grande festa e a filha do rei casou com o rapaz que tinha chorado na barriga da mãe.
        Algum tempo depois, o rei votou ao castelo e viu que a previsão se tinha cumprido e que o protegido da sua sorte tinha casado com a filha.
        - Como é que isto aconteceu? – perguntou. – A ordem que eu dava na minha carta era completamente diferente.
        Então a rainha estendeu-lhe o bilhete e disse-lhe para ler o que lá estava escrito. O rei leu-o, compreendeu que tinha havido uma troca e perguntou ao rapaz o que tinha feito da carta que lhe confiara e porque tinha entregue outra em seu lugar.
        - Não sei de nada – respondeu-lhe. – Deve ter sido trocada durante a noite que passei no bosque.
        No auge da cólera, o rei disse:
        - Isto não fica assim; aquele que quiser ter a minha filha tem que ir ao inferno e trazer três cabelos de ouro da cabeça do diabo. Se o fizeres, poderás ficar com ela.
        Com isto, o rei esperava desembaraçar-se dele para sempre, mas o rapaz que chorou na barriga da mãe respondeu-lhe:
        -Caro que irei buscar os três cabelos de ouro. Não tenho medo do diabo.
        Despediu-se e meteu-se a caminho. Passou às portas duma grande cidade e o guarda perguntou-lhe qual era o seu ofício e do que sabia.
        - Sei tudo – respondeu o protegido da sorte.
        - Nesse caso – disse o guarda – podes prestar-nos um grande serviço, dizendo porque é que a fonte do nosso mercado, donde jorrava sempre vinho, secou e nem água dá.
        O rapaz respondeu:
        - Haveis de o saber. Esperai só até ao meu regresso.
        Continuou o seu caminho e chegou às portas de uma outra cidade e mais uma vez o guarda lhe perguntou que oficio tinha e do que sabia.
        - Sei tudo – respondeu-lhe.
        - Então podes prestar-nos um grande serviço, explicando porque é que na árvore da nossa cidade, que costumava dar maças de ouro, nem folhas nascem.
        - Vós o sabereis – respondeu-lhe. – Esperem só pelo meu regresso.
        Continuou o seu caminho e chegou à beira de um grande rio que precisava de atravessar. O barqueiro perguntou-lhe que oficio era o dele e do que sabia.
        - Sei tudo – respondeu-lhe.
        - Nesse caso podias fazer-me um favor, explicando porque é que tenho de passar a minha vida a remar, sem descanso, de uma margem para a outra.
        - Vais saber – respondeu-lhe. – Espera só pelo meu regresso.
        Quando passou o rio, chegou às portas do inferno. Lá dentro era tudo negro e cheio de fuligem; o diabo não estava em casa, mas estava a avó, sentada num grande sofá.
        - Que é que tu queres? – perguntou-lhe, mas não tinha nada ar de malvada.
        - Queria três cabelos de ouro do diabo, sem eles, não poderei continuar com a minha mulher.
        - Isso é pedir muito – disse-lhe ela. – Se o diabo quando voltar te encontra, arriscas a pele. Mas enterneceste-me e vou ajudar-te.
        Transformou-o numa formiga e disse-lhe:
        - Mete-te nas pregas da minha saia que aí ficas seguro.
        - Está bem, mas ainda queria saber três coisas: porque é que uma fonte donde sempre jorrava vinho secou e nem água dá, porque é que uma árvore que costumava dar maças de ouro agora nem folhas tem e porque é que um barqueiro tem de andar num corrupio duma margem para a outra sem nunca ser substituído.
        - São três perguntas difíceis – disse-lhe ela – mas fica calado e toma atenção ao que o diabo disser quando lhe arrancar os três cabelos de ouro.
        À tardinha, o diabo chegou a casa. Mal entrou percebeu logo que havia qualquer coisa no ar.
        - Cheira-me, cheira-me a carne humana, disse, há por aí qualquer coisa escondida! Andou à procura por todos os cantos, mas não encontrou nada. A avó pregou-lhe um ralhete:
        - Ainda mal acabei de varrer e já me viraste tudo do avesso; também andas sempre com o cheiro da carne humana metido no nariz! Senta-te e janta!
        Depois de comer e beber, sentiu-se cansado, deitou a cabeça nos joelhos da avó e pediu-lhe para o catar um bocadinho. Daí a nada tinha adormecido, soprava e roncava. Então a velha agarrou num cabelo de ouro, arrancou-o e pô-lo junto dela.
        - Ai! – gritou o diabo. – O que é que te deu?
        - Tive um pesadelo – respondeu-lhe a avó – por isso é que te puxei pelos cabelos.
        - O que é que tu sonhas-te? – perguntou-lhe o diabo.
        - Sonhei que uma fonte de onde costumava jorrar vinho tinha secado e que agora nem água dá; porque é que terá sido?
        - Eh, se eles soubessem! – respondeu-lhe o diabo. – Há um sapo debaixo de uma pedra da fonte e, assim que o matarem o vinho recomeçará a correr.
        A avó voltou a catá-lo até que ele voltou a adormecer e ressonava com tanta força que até os vidros estremeciam. Então, arrancou-lhe o segundo cabelo:
        - Oh! Que é que estás a fazer? – gritou o diabo zangado.
        - Não te zangues, foi enquanto sonhava.
        - Que é que sonhas-te agora? – perguntou-lhe.
        - Sonhei que num reino havia uma árvore de fruta que costumava dar maças de ouro, mas agora nem folhas tem. Qual será a razão?
        - Eh, se eles soubessem! – respondeu o diabo. – É um rato que lhe está a roer a raiz. Se o matarem, a árvore dava maças de ouro de novo. Mas se continuar a roê-la por muito mais tempo, a árvores secará por completo. Agora deixa-me em paz com os teus sonhos; se me tornas a incomodar, levas um sopapo.
        A avó acalmou-o e pôs-se a cata-lo de novo até que ele tornou a adormecer e começou outra vez a roncar. Então ela agarrou no terceiro cabelo de ouro e arrancou-lho. O diabo deu um salto, começou a gritar e preparava-se para a fazer passar um mau bocado, quando ela mais uma vez o acalmou dizendo-lhe:
        - Quem é que tem culpa de ter maus sonhos?
        - Então o que é que sonhas-te? – perguntou-lhe ele curioso, apesar de tudo.
        - Sonhei com um barqueiro que se lamentava de ser forçado a andar num corrupio de uma margem para a outra sem nunca ser substituído. Porque será?
        - Eh que imbecil! Quando lá chegar alguém e lhe pedir para o transportar, só tem que lhe pôr os remos na mão e pronto: fica o outro a transportar as pessoas e ele ficará livre.
        Como a avó já arrancara os três cabelos de ouro e as três perguntas tinham tido resposta, deixou o velho dragão repousar e ele dormiu até ao romper da manhã.
        Assim que o diabo saiu, a velha tirou a formiga da prega da saia e deu de novo a forma humana ao filho da sorte.
        - Toma os três cabelos de ouro – disse-lhe – e quanto às respostas do diabo às três perguntas com certeza que as ouviste.
        - Sim – disse-lhe. – Ouvi-as e não vou esquece-las.
        - Vá, agora que já estas livre de apuros, podes meter os pés ao caminho.
        Agradeceu à velha e deixou o inferno, contente por tudo lhe ter corrido tão bem. Quando chegou ao pé do barqueiro tinha que lhe dar a resposta prometida.
        - Leva-me primeiro para a outra margem – disse o jovem. – Depois eu dir-te-ei como poderás livrar-te.
        E, assim que chegou à outra margem, deu-lhe o conselho do diabo.
        - Quando alguém te pedir para o atravessares, só tens que lhe pôr os remos nas mãos.
        Continuou o seu caminho e chegou à cidade da árvore estéril e o guarda também quis saber a resposta. Então, repetiu-lhe o que tinha ouvido dizer o diabo.
        - Matem o rato que lhe rói a raiz e ela dará de novo maças de ouro.
        O guarda agradeceu e deu-lhe como recompensa dois burros carregados de ouro. Finalmente, chegou à cidade da fonte que tinha secado. E aí repetiu ao guarda o que o diabo tinha dito.
        - Há um sapo debaixo de uma pedra da fonte; procurem-no e metem-no que de novo terão vinho em abundância.
        O guarda agradeceu e deu-lhe também dois burros carregados de ouro.
        E o filho da fortuna chegou a casa, ao pé da mulher, que se alegrou de todo o coração ao vê-lo e ao saber como tinha conseguido triunfar. O jovem levou ao rei os três cabelos de ouro do diabo que lhe tinha pedido e, quando o rei viu os quatro burros carregados de ouro ficou todo contente e disse:
        - Agora que todas as condições estão satisfeitas, podes ficar com a minha filha. Mas diz-me, meu querido genro, de onde trazes todo esse ouro? É de facto um grande tesouro!
        - Atravessei um rio – respondeu-lhe. – Foi lá que o apanhei, está na margem como se fosse areia.
        - Será que também lá posso ir buscar algum? – perguntou o rei completamente seduzido.
        - Tanto quanto quiserdes; há um barqueiro no rio, fazei com que ele vos atravesse para a outra margem e aí podereis encher os vossos sacos.
        O rei, ganancioso, partiu a toda a velocidade e quando chegou à borda da água fez sinal ao barqueiro para o atravessar. O barqueiro aproximou-se, disse-lhe para entrar no barco e quando chegaram à outra margem pôs-lhe os remos nas mãos e saltou para terra. E daí em diante o rei ficou barqueiro para castigo dos seus pecados.
        E ainda lá estará? – Pois não!? Se nunca apareceu ninguém que lhe agarrasse nos remos…
Fonte: GRIMM, Jacob e Wilhelm, Contos de Grimm, 2007, Lisboa, Relógio D’Água.