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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Contos Angolanos



A Sexa e o Bâmbi*

Amigo Sexa**, em testemunho de amizade, convidou o compadre Bâmbi** a um passeio a sua terra. Dias depois, amigo Bâmbi, para experimentar a cordialidade de amigo Sexa, confidencia-lhe:
- Sabes? Gosto muito da tua irmã!
- Se gostas dela, espera, que eu te preparo as conversas.
Amigo Sexa transmitiu a revelação à família. A rapariga anuiu. E amigo Bâmbi passou a namorá-la.
Mais uns dias volvidos, amigo Sexa anunciou ao amigo a abalada, tinha de retomar o serviço. Amigo Bâmbi, para provar novamente a estima a casa, finge-se doente. O amigo adia a partida.
Amigo Bâmbi continua sem se levantar. Consultam-se quimbandas. Mas todos declaram que aquilo não era doença, antes um fingimento.
- É compadre, tu afinal não tens nada! Vamo-nos embora! – Roga-lhe amigo Sexa.
Amigo Bâmbi suspira:
- Estou envergonhado compadre!
Daí a dias, fazia-se morto. Amigo Sexa prepara-se para arranjar uma tipóia – esteira atada a um pau – para o enterrar. Antes de sair ainda lhe diz ao ouvido:
- É compadre, vamos enterrar-te! Por que não te levantas?
- Auâ! Enterrem-me já! Estou envergonhado!
- Mas estás envergonhado de quê? Não roubaste, não puseste crime, não deves a ninguém…
- Deixa-me só, compadre! Estou envergonhado!
O corpo é deposto na tipóia. Já na altura do enterramento, o amigo Sexa introduz-se na cova para incomodar o amigo.
- Compadre, vamos mesmo enterrar-te! Não está a ouvir que já te pusemos na cova? – Murmura-lhe pela derradeira vez.
- Já disse: enterrem-me! Estou envergonhado!
- Mas vergonha de quê? Não roubaste, não puseste crime, não deves a ninguém… Vamos só, aqui não há parvoíce! Levanta-te, morres mesmo!
- Exi! Fico mesmo! Estou envergonhado!
Perante tal obstinação, amigo Sexa sacode o companheiro. Mas nada! Para o demover, pede aos assistentes que o enterrem também.
A família opõe-se. Eh! eh! eh! Estava ele porventura doido ou bêbado para querer enterrar-se vivo? Saísse do buraco, deixasse o outro, que já tinha morrido!
E amigo Bâmbi, pela sua vergonha, acabou por ser enterrado.
(Conto narrado por Virgínia Francisco dos Santos, uma septuagenária do Dondo)
** Sexa: cabra selvagem de pequeno porte que abunda sobretudo nas matas do Norte do país; corsa.
** Bâmbi: cabra selvagem que prolifera por todo o país: cabrito do mato.
*Óscar Ribas**(contista, ficcionista e etnólogo angolano (Ago/1909-Jun/2004); conto retirado no livro “Misoso”, 1º volume)

Fonte:http://malambas.blogspot.com/(16/01/2011-7.30h)
O Coelho e o Macaco
Amigo Macaco procurou o amigo Coelho e disse-lhe:
– Vavó Leoa teve filhos! Como ela só está bem a matar vamo-nos oferecer para lhe criar os filhos. Depois matamo-los à fome, e a ela também.
Amigo Coelho achou bem. Mas quando se apresentaram a avó Leoa quis matá-los.
Aiii, vavó, não nos coma só, somos crianças, a nossa carne não chega para te acabar a fome!
Se queres, vamos-te buscar os maiores, como vavô Pacaça, tio Javali e outros… Suplicaram ambos.
Avó Leoa aquiesceu.
– E vavó, para eles virem, tens de te fingir morta, envolvida em capim. Alvitrou amigo Macaco.
Os dois, colocando-se à porta de casa, começaram a tocar uma goma, cantando:
Morreu vavó Leoa,
Livres ficámos!
Morreu vavó Leoa,
Livres ficámos!
A bicharada, ouvindo tal cantiga, tão satisfeita ficou, que até se pôs a dançar dentro do quarto. Hela! Vavó Leoa morta! Até parecia mentira! E todos, em redor do monte de capim, dançavam, dançavam, dançavam.
Amigo Coelho e amigo Macaco, já a batucada ia rija, saem e fecham a porta. Avó Leoa salta do capim, e nhão-nhão-nhão – mata aqui, mata ali, mata a todos eles. Não satisfeita com o morticínio, vai ter com o amigo Coelho e amigo Macaco, igualmente para os matar.
– Ai, vavó, não nos mates só, a gente vai-te buscar lenha para assares esta carne toda! Aiii, não queres? – Propõe amigo Macaco.
Avó Leoa concordou. E os dois foram ao mato. Mas avô Quitassele quis comê-los.
– Ai vavô não nos mates só, espera que te trazemos um grandalhão como tu. Somos crianças, não temos carne para ti. – Rogou o amigo Macaco.
A serpente anuiu.
– Vavó, estávamos para ser comidos por vavô Quitassele. O melhor é ires connosco.
– Informou amigo Macaco.
Avó Leoa foi. Ao chegarem, amigo Macaco avisa avô Quitassele:
– O grandalhão como tu já cá está.
Avô Quitassele sai do esconderijo e mata avó Leoa.
– Vavô em casa tem muita carne. Vamos prepará-la. – Convida amigo Macaco.
Os três vão para casa. Mas amigo Coelho e amigo Macaco carretam lenha.
– Vavô agora é preciso fogo. Vamos nas lavras. – Alvitra amigo Macaco.
As pessoas, vendo a cobra, deitaram a fugir:
– Cobra! Cobra!
Aproveitando a fuga, amigo Macaco aconselha:
– Vavô, acenda já.
A serpente que trazia capim na cauda e cabeça, virou primeiro uma parte, depois a outra. E avô Quitassele morreu queimado.
*Óscar Ribas*
*(escritor e etnólogo angolano (1909-2004); conto retirado do Afroletras, nº. 3, Fev. 2000)
Fonte:http://malambas.blogspot.com/ (16/01/2011- 8.54h)

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